segunda-feira, 6 de julho de 2015

A minha relação com a comida e o peso (Parte I)

Nunca tive problemas com o peso até engravidar da minha primeira filha.
Sempre me senti em forma e nunca soube o que era preocupar-me com um "pneu" ou celulite.
Na casa dos meus pais sempre se fizeram refeições equilibradas e saudáveis.
Em criança, era obrigatório comer sopa em todas as refeições, legumes ou salada a acompanhar o prato e fora das refeições só comíamos fruta, iogurtes pão ou bolachas maria.
Era raro comer gelados ou bolos. Só mesmo em "dias de festa".
Infelizmente nunca gostei de fazer desporto. Nunca fui incentivada ou me senti motivada.
Aliás, desmotivaram-me, desde que entrei para o "ciclo preparatório" e "liceu" (sim, sou pré-histórica), e comecei a ter aulas de educação física. Os professores limitavam-se a mandar-nos correr á volta do campo e jogar futebol. Eu odiava futebol (e ainda odeio).
Como também não tinha problemas de peso, nunca recorri a ginásios, por falta de tempo e porque não era moda "no meu tempo" (sim já vos disse que sou pré-histórica?)
Sempre fui uma rapariga simples. Discreta na forma de ser e de vestir.
Quando comprava roupa, optava sempre por algo simples e prático. Era pacifico comprar roupa. Ficava sempre bem. Nunca havia gordura ou lombas a espreitar. Sentia-me bem na minha pele. Como costumo dizer "era feliz e não sabia".
 
Um dia conheci um principe. Sim, era um verdadeiro principe. Era o tal! E continua a ser. No matter what!
Tivemos um namoro super feliz. Eramos completamente grudados, autenticas almas gémeas.
Casamos e percebemos que eramos realmente feitos um para o outro, fazíamos tudo juntos e eramos felizes sempre. 
Quando engravidei da minha primeira filha, a alegria foi imensa. Era um sonho, eu ia ser mãe. E ele era o pai. Não podia estar mais feliz. Tudo como sempre sonhamos e idealizamos.
Logo após descobrir que ia ser mãe, comecei a enjoar muito. Vomitava todos os dias e várias vezes ao dia. Não suportava cheiros e alguns sabores. Mas tinha um apetite voraz. Comia e vomitava. Voltava a comer. E a vomitar.
E o peso começou a disparar.
No primeiro mês já sentia a roupa super apertada e foi piorando ao longo dos 9 meses.
Aumentei 18 kgs!!! Estava gorda, feia, barriguda, enjoada, sonolenta, rabugenta e desiludida comigo. Chorava tantas vezes, escondida do meu marido.
A minha princesa nasceu linda e perfeita. Era a princesa do papá. Eu estava orgulhosa de o fazer feliz, e lhe dar a melhor prenda que lhe poderia dar. Eramos uma família completa e feliz.
Sofri muito durante a gravidez (9 meses de enjoos fortes e insuportáveis), e um parto de 10 horas com muito sofrimento e híper traumático.
Mas sentia-me realizada e já podia pensar em resgatar o meu corpo. Julgava eu que ia ser fácil.
Amamentei durante 4 meses, fui trabalhar muito cedo, comecei a ter pouco tempo para mim. Não dormia mais do que 2 horas seguidas, não tinha tempo para ir ao cabeleireiro, ginásio ou cuidar de mim.
Meu marido trabalhava longe e eu tinha que cuidar da casa e da bebé sozinha. Todas as tarefas eram para mim e depois ainda tinha que amamentar noite e dia. O peso era suposto baixar, perante tanta azáfama e stress. Mas vivia grudado em mim. Além disso o metabolismo ficou híper lento, comecei a sofrer de retenção de líquidos e tensões muito baixas.
Comecei a detestar-me. Odiava tudo em mim. Sentia-me velha, gorda e que tinha nascido para ser mãe, agora tinha que me anular e dedicar-me á minha filha. E esquecer-me que ainda era uma mulher.
Deixei de estar com minhas amigas, só vivia para minha filha, meu marido e restante família. Não socializava. Íamos jantar a dois, nos aniversários e pouco mais.
O meu salário era todo gasto com minha filha, no leite hipoalérgico, nas papas, nas fraldas, nas consultas da pediatra, na creche, nas roupinhas, na farmácia, em tudo que ela precisasse. Não sobrava para comprar roupa para mim, para me cuidar, para ir ao ginásio (embora também não tinha tempo para tal).
 
Anulei-me completamente. Escondia-me atrás de um cabelo escuro, de umas roupas largas e feias, e dentro de casa.
Meu marido começou a reclamar. Que eu não era a mulher com quem casou. Que se apaixonou por uma mulher em forma e uma mulher de garra. Que me queria de volta.
O meu amor próprio morreu.
E aquela não era eu. Tinha desistido. Não tinha forças para lutar e não sabia como fazer.
Para combater a frustração compensava na alimentação. Comidas pouco saudáveis e que em nada ajudavam. Era o meu único conforto. Era o meu maior inimigo e eu descobri isso tão tarde.
Perdi algum peso mas entretanto descobri que estava novamente grávida. Com 10 kgs em excesso.
Foi um choque! Finalmente eu estava no ginásio e a cuidar de mim e tive que desistir.
Eu queria muito outro bebé mas não agora.
E voltou a acontecer tudo de novo. Muitos enjoos e o peso a aumentar.
12 kgs depois nasceu uma princesinha linda, que veio dar muita alegria á minha vida.
Mas eu não estava feliz. Eu era a minha maior inimiga.
 
(continua...)